Estava agora procurando um artigo na internet e me deparei com um artigo da Revista VEJA de 2006 que achei muito interessante... nao estou dizendo aqui se concordo ou nao, mas resolvi coloca-lo aqui e cada um faça seu proprio julgamento... mas achei interessante porque faz a gente pensar em muita coisa, talvez assuste em algum ponto, mas foi um estudo, entao vale a leitura e pensar a respeito...
"O americano David Livingstone Smith acostumou-se a polêmicas ao defender suas idéias. Afinal, propalar que o ser humano é mentiroso por natureza e que a mentira é útil à sociedade vai contra o senso comum. Aos 53 anos, diretor do Instituto de Ciência Cognitiva e Psicologia Evolutiva da Universidade de New England, nos Estados Unidos, ele defende que o mundo seria um caos se todos decidissem falar a verdade. Em seu livro Por que Mentimos – Os Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Mentira (Editora Campus/Elsevier), lançado no fim de 2005 no Brasil, Smith afirma que somos programados para enganar desde os primórdios da humanidade. Seja para nos proteger, seja para levar vantagem. Quem mente com desenvoltura, diz ele, pode até sobressair entre os demais. O exemplo clássico é o dos políticos, que mentem por profissão e continuam tendo o ouvido de milhares de pessoas. O motivo? A dissimulação é parte da vida em sociedade e são raras as pessoas com o dom de distinguir um comportamento normal da mentira patológica.
A mentira está por toda parte. Ela é normal. Todos mentimos e quem diz o contrário mente. Temos dificuldade em nos reconhecer como mentirosos porque há um julgamento moral contrário. Mentimos para obter vantagens e para nos proteger de algo, o que significa que estamos, de certa forma, passando a perna em alguém. Quem mente bem costuma se dar melhor do que quem não consegue fazê-lo.
A mentira traz vantagens indiscutíveis. Bons mentirosos são mais populares e bem-sucedidos. Alguns conseguem enganar por muito tempo e atingem status social mais alto e até melhores salários. A mentira está em toda a natureza. Vírus enganam o sistema imunológico de seus hospedeiros, plantas dissimulam para se livrar de predadores, animais blefam para conseguir comida. Não é só uma questão de sobrevivência. É levar vantagem. E ser melhor do que os concorrentes. E assim é a vida humana também.
A mentira é o pilar das relações sociais. Há pais que dizem: "Ensino meu filho a não mentir". Isso é falso. Somos nós que os ensinamos a não dizer a verdade. Ensinamos que é errado dizer à vovó que os seios dela são caídos. Ensinamos as crianças a agradecer pelo presente de Natal mesmo quando elas o odeiam. Isso pode ser chamado de "tato", "boas maneiras", mas são mentiras. A mentira não é boa ou ruim, ela é necessária. Imagine o mundo em que todos fossem verdadeiros uns com os outros. Seria o caos.
Os que mentem sao socialmente mais inteligentes. Conseguem perceber o que a outra pessoa quer ouvir, o que é pertinente contar naquela hora, têm sensibilidade para notar a vulnerabilidade alheia. São melhores manipuladores. Mas é preciso dizer que mentimos melhor quando não sabemos que estamos mentindo. Ou seja, quando enganamos a nós mesmos. A melhor mentira é contada por aquele que acredita no que está dizendo.
O princípio de tudo é o auto-engano. Como sabemos que mentimos para nós mesmos, inconscientemente criamos um mecanismo de defesa que nos impede de nos aprofundar muito naquele assunto. Se o fizermos, nós mesmos ficaremos expostos como mentirosos. É nesse sentido que somos programados para aceitar mentiras. Quando o presidente George W. Bush afirmou que existiam armas de destruição em massa no Iraque, ele talvez tenha mesmo se convencido disso. A realidade é que os métodos para entender como a mente processa a mentira ainda são muito falhos.
Pesquisas mostram que apenas um em 1 000 indivíduos consegue detectar sinais de mentira em outra pessoa. No caso dos políticos, profissionais treinados só conseguem identificar mentiras em 10% dos casos. Políticos são brilhantes em nos distrair com o que dizem. Aqueles que não conseguem mentir bem nunca chegam lá. É uma tragédia pensar que a política é uma das atividades mais vitais nas sociedades em todo o mundo pois é uma das mais irracionais e desonestas que existem.
As pessoas que prestam atenção à linguagem corporal, ao tom de voz, são melhores do que as que escutam as palavras. É simples assim. Algumas poucas pessoas fazem isso naturalmente, a maior parte não consegue. Podemos até achar algo estranho, mas somos enganados pelas palavras. De fato, deveríamos prestar mais atenção ao nosso próprio instinto. Existem métodos empíricos, como os do pesquisador Paul Ekman, da Universidade da Califórnia, há trinta anos no ramo. Ele analisa os movimentos dos olhos, a respiração e os sinais verbais. No entanto, quando estamos envolvidos emocionalmente, perdemos a objetividade para perceber tudo isso. Na política estamos quase sempre envolvidos emocionalmente.
Qualquer coisa feita para iludir é uma mentira. Omitir-se ou inventar um padrão técnico para se explicar sobre algo é mentira, sim. As pessoas usam essas coisas apenas para escapar e, efetivamente, escapam.
Algumas vezes mentimos dizendo a verdade. Digamos que eu não queira que você saiba algo sobre mim. Posso relatar esse dado de uma maneira tão exagerada que você o desconsideraria. Não menti, mas você não acreditou. Ou seja: manipulei. Existem graus de distorção no que dizemos uns aos outros, mas acho que o que caracteriza a mentira é fazê-lo com o objetivo de vantagem.
Falar com alguém de quem você não gosta, omitir seu real estado de espírito, dizer que a pessoa está magra, quando na verdade ela está gorda, tudo isso são mentirinhas do dia-a-dia que fazem parte dos padrões sociais de convívio. A mentira ocorre naturalmente a todos nós, e muitas vezes não sabemos que estamos mentindo.
Há uma pesquisa relevante feita pelo psicólogo Robert Feldman, da Universidade de Massachusetts, mostrando que as pessoas contam três mentiras a cada dez minutos de conversa. É interessante, mas é uma definição estreita da mentira. Não se mente só com palavras. Um político, querendo esconder alguma coisa ou estando inseguro do que diz, pode chegar a um palanque ou a um debate na TV e falar de maneira pomposa, mostrar-se indignado, aparentar confiança. Ele vai convencer muita gente. Precisamos observar o comportamento desonesto de forma muito mais abrangente. E, quando o fizermos, descobriremos que o ato de mentir é muito mais amplo do que se imagina.
Contar mentiras é uma tendência tão internalizada no ser humano como a capacidade de falar e caminhar. Não temos a escolha de não mentir. Quem não mente, no sentido estrito da palavra, são os autistas. Para que possamos mentir, precisamos perceber como as pessoas nos vêem. Para quem não entende isso, como os autistas, a idéia de esconder a verdade não faz sentido. Não é por uma superioridade moral, mas por uma deficiência neurológica que os torna inábeis para perceber essa sutileza. Então, com exceção dos autistas, somos todos mentirosos por natureza..."
Dah pra entender porque eu disse que é "assustador"? Que Deus nos ajude. beijos
my first time abroad...
Há 13 anos
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